E a vergonha das mães solteiras!
Na actualidade, em que o casamento está fora de moda, as mulheres engravidam por encomenda e cada vez nascem menos filhos, ser filho de pai incógnito não é problema que tire o sono a qualquer uma. Pois, não era assim nos tempos da minha bisavó Eusébia, único dos meus antepassados mais recentes que nasceu, viveu durante grande parte da sua vida e ficou enterrada no «Cemitério da Agra», quando a sua família abandonou a freguesia, à procura de uma vida melhor.
A minha mãe que era neta da Eusébia nasceu em Rio Mau, foi viver para Macieira, quando entrou para a Escola Primária e abandonou a freguesia, indo morrer a Touguinha, concelho de Vila do Conde, para seguir o marido que no propósito de abandonar a agricultura arranjou emprego na Chenop, empresa de electricidade que electrificou Macieira, no ano em que eu fiz a 4ª Classe. O meu pai que para pedinchar não era peco, aproveitou a passagem dessa empresa pelas freguesias de Macieira e Gueral, recorreu à ajuda das pessoas mais influentes que conhecia e lá conseguiu convencer o "patrão da electricidade" a levá-lo com ele.
Isso fez com que a minha mãe e avó materna fossem morrer e ser sepultadas em Touguinha, deixando para trás os restos mortais da sua antepassada que faleceu, em 1939, na freguesia de Macieira, onde também tinha nascido, 87 anos antes. Como o nosso Presidente da Junta costuma ler estas palavras que vou publicando, deixo-lhe aqui uma pergunta. Seria possível identificar a sepultura onde os ossos da minha bisavó Eusébia ficaram a dormir o sono eterno? Cada vez que passo ao cemitério apetece-me ir fazer uma visita, mas mete-me impressão não saber, exactamente, o sítio onde ela ficou.
E voltando à sua história, pois é disso que trata esta publicação, ela foi mãe duas vezes. A primeira, como mãe solteira, de um rapaz chamado Carlos que nasceu, viveu e morreu no lugar de Lagoa Negra, da freguesia de Barqueiros, concelho de Barcelos e a segunda, já casada, de uma menina a quem puseram o nome de Maria (Maria da Eusébia) que viria a ser a minha avó.
Da minha mãe (Rita da Eusébia) muitos macieirenses, nossos contemporâneos, conhecem a sua história. Da minha avó Maria nem tanto, pois não nasceu na freguesia e, embora tenha lá vivido a maior parte dos seus 80 anos, levava uma vida escondida por trás da sua única filha, do seu genro e dos muitos netos que ajudou a criar. Da minha bisavó Eusébia duvido que algum macieirense se lembre, pois já morreram todos que com ela conviveram.
A imagem do assento de baptismo que vêem acima é do meu tio-avô que nasceu em Pedra Furada, em 1880, e foi viver para a Lagoa Negra com 10 anos de idade, quando a sua mãe se casou com um viúvo lá residente. Ele que tinha ficado viúvo sem filhos e ela com um filho sem pai, encontraram no casamento a solução para ambas as situações que não eram muito agradáveis para nenhum deles. O Carlos passou a ter um pai adoptivo, herdou os poucos haveres de um pequeno lavrador, ali casou e criou 4 filhos, um dos quais emigrou para o Brasil e tem lá descendência, tendo os outros 3 morrido solteiros. mesmo assim, para preservar a (má) tradição da família, uma das suas filhas foi também mãe solteira de um rapaz que ainda vive na casa que foi da sua bisavó Eusébia, casado e com duas filhas para continuar a história da família.
Como curiosidade saliento o nome do padrinho de baptismo que era irmão da Eusébia, também casou na Lagoa Negra (na minha opinião foi ele que "arranjou" o casamento da irmã) e a particularidade de ele já saber assinar o seu nome, coisa pouco comum, no ano de 1880, em que reinava D. Luis I, em Portugal. Outro dado curioso é o nome do pároco, António Alvares da Silva, nascido e sepultado em Pedra Furada, mas que quase de certeza era oriundo de uma família de Goios, da qual veio para Macieira uma Maria Alvares da Silva que casou no Outeiro e foi antepassada da minha bisavó Eusébia. Aliás, ninguém me disse, mas eu estou convencido que foi esse facto que fez a mãe solteira fugir de Macieira para Pedra Furada, quando se viu grávida, ou seja, acolher-se à protecção do pároco da freguesia que ainda era seu parente.