quinta-feira, 23 de maio de 2024

Casa do Couto!

 O David, filho do meu padrinho com quem eu mais convivi por sermos ambos estudantes de padres, na década de 50 do século passado, ele nos seculares de Braga e eu nos Jesuítas de Cernache, faleceu. Na última vez que tive o prazer de falar com ele, contou-me que tinha ficado com a casa dos seus pais, depois das partilhas. Pouco tempo durou, depois desta nossa última conversa, ao balcão do Café do Padrão, em Macieira, onde nos encontrámos por mero acaso.

Agora que ele partiu para fazer as contas com S. Pedro, a casa deve ter ficado para o seu filho Luis de Oliveira que é médico especialista em Oftalmologia e trabalha em Vila do Conde, ou para a sua filha. Sendo gente da cidade, pensei que poderiam passar a casa a patacos e investir o dinheiro noutra coisa qualquer e que lhe ficasse mais à mão, já que moram em Vila do Conde.

Na semana passada fui a Macieira, até almocei num restaurantezinho que existe ao lado da Bomba de Gasolina, não sei se ali é Outil ou Socarreira, e passei pela casa que era do meu padrinho e reparei que há lá obras de modernização. Seja quem for o dono, mandou cortar o bico da horta e abrir um portão com largura para entrar um carro, no entroncamento da estrada de Barcelos com a Rua de Talho. Pode ser que assim aquela casa, onde fui muito feliz, volte a ganhar vida como tinha nos tempos da Tia Beatriz, a quem eu chamava madrinha e, de vez em quando, me adoçava a boca.

Além de outras memórias, essa casa foi onde o meu pai trabalhou até ir para a tropa, depois de sair da Casa do Loureiro de Gueral. E ali deve ter conhecido a minha mãe que, nessa altura, morava no Lugar de Talho, em casa da Tia Luísa, uma velhota solteira que morava nuns anexos da Casa do Torres, nas costas da casa dos Ferreiras, pais da D. Clementina, professora das meninas de Macieira.

O meu padrinho tinha a mania da caça. Além de comer e beber era do que mais gostava. Um dia montou uma ratoeira para apanhar um texugo que lhe andava a estragar o milho num campo que tinham junto ao rio de Cabanelas. E conseguiu apanhá-lo e depois trouxe-o vivo para casa e prendeu-o ao cadeado, onde costumava estar o cão de guarda à porta de casa. Nesse dia, movido pela curiosidade, fui beijar a mão ao meu padrinho e a Tia Beatriz convidou-me para almoçar com eles. Foi um dia em grande que nunca mais esqueci.

Hoje, tantos anos depois destes acontecimentos (pelo menos 70 anos) estava aqui a pensar em Macieira e nas poucas memórias que guardo dessa freguesia, onde nasci, e achei boa ideia deixar aqui registado aquilo que me ia passando pela cabeça. Talvez alguém interessado nestas leituras (da net) ao pesquisar pela palavra "Macieira" ou então "Couto" venha aqui parar e fique a saber que há alguém que testemunhou a vida dos moradores daquela casa que anda agora em obras de que o David fazia parte e, suponho eu, foi o último a morrer.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Ferreira de Lemos!

 


Saí de Macieira muito cedo, não admira que não me lembre de muita gente que viveu na primeira metade do Século X X, até porque era muito novo para fixar o nome de pessoas que na sua maioria eram conhecidas pelos seus nomes próprios ou alcunhas.

No entanto, no lugar da Igreja, ou Outeirinho, como viria a chamar-se depois, moravam tão poucas famílias que alguma lembrança me deveria ter ficado na memória. Mas não ficou e não vale a pena espremer os miolos, pois daí nada sairá. O melhor será perguntar a alguém que nunca tenha saído de Macieira e pode ser que encontre a resposta.

No ano de 1897, casaram Serafim Ferreira de Lemos e Ana Maria da Silva. Ele filho de António Ferreira Jr. e Ana Ferreira de Lemos e ela filha de Luís José da Silva e Ana da Silva, ficando a morar no lugar da Igreja.

Deste casal nasceram 5 filhos, sendo o mais velho o António, nascido em 1898. Depois nasceu o João, em 1900, a Ana, em 1902, o Joaquim, em 1903 e a Matilde, em 1904.

Procurei os poucos registos existentes, no século XX e apenas encontrei a notícia da morte de um dos filhos, quando tinha 2 ou 3 anos de idade. Dos outros 4, dois estão sepultados no cemitério da Agra, a Ana e o João (creio não estar enganado quanto ao serem irmãos). Pelo aspecto da campa que parece abandonada, não deve restar, em Macieira, qualquer descendente desta família. Acredito que a Junta de Freguesia deve saber a quem pertence a campa, terei que ir lá perguntar-lhes.

Tudo isto se resume ao facto de a minha bisavó Eusébia, bisneta do avô Jerónimo Ferreira, ter sido sepultada, no ano de 1939, naquela zona do cemitério e eu ter andado a tentar descobrir em qual campa. A Junta de Freguesia, nessa data, ainda não registava o lugar de sepultura de cada falecido, pelo que me vai ser muito difícil chegar a uma conclusão. Mesmo assim, há quem me garanta lembrar-se de ser uma das 3 últimas campas, das 3 filas do lado direito, ou seja uma de nove.

Mesmo que eu descubra a quem pertence a campa dos irmãos Ferreira de Lemos, não acredito que eles se lembrem de quem seria o inquilino anterior daquele espaço fúnebre. E estou a deixar isto, aqui registado, apenas para me servir de referência, no futuro.