Do Lobito sai uma estrada que se dirige para Leste a caminho de Bocoio, antiga Vila Sousa Lara, região de grande influência agrícola, para onde emigrou a família do Tio David Vitorino, nos idos de 1955.
Os seus filhos, talvez pela proximidade das nossas residências, eram os meus amigos de brincadeiras a que se seguiam o Amaro do Matos e o Quim Pimpa, todos colegas de Escola Primária. Acabada a 4ª Classe era obrigatório traçar outro rumo para a nossa vida. O Quim ficou em Macieira até ao dia em que faleceu vítima de cancro nos pulmões. O Amaro e eu fomos estudar, quanto à família dos Farinheiros o seu destino foi Angola.
O Salazar acordou tarde para o problema, mas na década de 50 do século passado, começou a incentivar a ida de colonos para Angola para acelerar o desenvolvimento rural daquela província ultramarina. Um contrato de 25 anos para cultivar uns quantos hectares de terreno que era preciso desbravar e que ao fim desse período passariam a ser propriedade do colono.
A Vila Sousa Lara era a capital do ananás e eu acredito que foi nessa área que o Tio David resolveu investir o seu tempo e as suas energias. Os filhos eram ainda pequenos para ajudar, o Serafim tinha 12 anos e o Benjamin 10, mas, como diz o ditado, o trabalho do menino é pouco, mas quem o desperdiça é louco.
Pena foi ter começado a guerra, seis anos depois de lá terem chegado e os filhos terem alinhado pelo Exército Português, logo que atingiram a idade para isso. O Serafim fez 21 anos, em 1964 e o Benjamim em 1966 e a guerra durou ainda até o Domingos e o Manuel serem também chamados a cumprir o dever pátrio. E depois da Guerra Colonial veio a guerra civil que acabou com a vida dos colonos portugueses que tiveram que regressar a Portugal ou refugiar-se nas cidades. Foi uma desgraça para todos, portugueses e angolanos.
Nas imagens acima que recortei dum mapa do Google Earth pode ver-se a zona onde eles foram parar e a povoação de Cavissamba (perto do Morro das Mamas) era o lugar onde tinham a sua exploração agrícola. Hoje, todos os filhos do Tio David que ficaram em Angola são já defuntos, restam por lá alguns netos, nascidos do Serafim, do Manel e da Conceição, mas até o Benjamim, actualmente, a morar em Vila Real de Trás-os-Montes, lhes perdeu o rasto.
Como hoje é dia de consoada e seria altura de reunir toda a gente à volta da mesa, vim lembrar esta família que foi importante para mim, na minha infância, e já cá não está fisicamente. Mas da minha memória ninguém a apaga!
P.S. - O Manel, morador na freguesia de Campo, Barcelos, que era filho da Tia Carma (de solteira) também já faleceu, assim como a Lúcia, moradora na Póvoa de Varzim, filha do Tio David (de solteiro).