Na semana passada voltei a passar pela Fonte do Outeiro de onde bebi a água até aos 11 anos de idade. Depois emigrei para Coimbra e passei a beber água canalizada que não faço a mínima ideia de onde vinha.
Gostei de ver que as obras avançaram um pouco, pelo menos já foram desmontados os andaimes e completada a obra de pedreiro, em grosso. Não sei qual é o projeto da obra, se vão manter o bebedouro do gado e a poça, onde a minha avó ia lavar as fraldas dos muitos netos que ajudou a criar. O carreiro por onde desciam as pessoas que vinham do lado norte, para evitar dar uma grande volta, foi fechado. Talvez para alargar o caminho de cima, ou talvez porque tenham chegado à conclusão que, no presente, ninguém anda a pé. Além de que do lado norte só vive o Celestino do Sá e não usará a água da fonte para as suas necessidades do dia-a-dia.
Esqueci-me de tirar uma foto para deixar aqui e comparar com as fotos antigas que tenho guardadas no meu computador. Longe vão os tempos em que eu ia ali com um gigote de verga na mão para recolher a bosta que o gado largava, quando ia beber, e que a minha avó usava para vedar a porta do forno em que cozia a broa de milho para toda a semana.
Em 80 anos de vida já vi e ouvi muita coisa, inclusivé que bosta seca serve de combustível no deserto, onde não se encontra um graveto que sirva para alimentar uma pequena fogueira, onde ferver um pouco de água para fazer chá. Viajei pela Europa, África e Ásia e vi muitas coisas que quem nunca saiu de Macieira nunca viu, mas regresso sempre ao Outeiro, onde nasci, e vou olhar para a fonte que continua a esguichar água, como já fazia antes de eu nascer!