segunda-feira, 11 de novembro de 2024

As cunhadas do Jerónimo!

 No lugar do Outeiro, havia duas mulheres, já velhotas e a viver sozinhas, que se tratavam por cunhadas. Nunca percebi de onde vinha o parentesco nem tive o prazer de conhecer o famoso Jerónimo que tinha tantos familiares (relacionados comigo) a morar no mesmo lugar. Devia ser pessoa importante e sempre tive a maior curiosidade em saber mais a seu respeito, coisa que hoje já consegui. Sem quem eram os seus pais  e quem foram os seus filhos, netos, bisnetos e tetranetos, entre os quais eu me incluo.


Mas, voltando às duas velhotas, a Roza e a Amélia, sempre vestidas de preto e com o cabelo escondido por um lenço negro. Uma delas, devia ser mais gaiteira, pois amarrava o lenço com um nó no alto da cabeça e ficava com as pontas como se fossem duas orelhas de cão. A outra, mais envergonhada, atava-o debaixo do queixo, ou com um nó atrás das orelhas que passava mais despercebido.

Só agora que dei por concluídos os meus estudos acerca dessa família é que percebi o porquê de elas se tratarem por cunhadas. A Roza era irmã do António que casou com a Tia Amélia, o tal que pouco antes de eu nascer bateu as asas para o Brasil e mais ninguém lhe pôs a vista em cima. Dizem as más línguas que arranjou por lá outra mulher e uma caterva de filhos que talvez andem ainda por aqui como imigrantes e sem conhecerem os seus familiares. A Roza nascida em 1889 e ele em 1891 já devem ter ido acertar as contas com o S. Pedro, há muito.

Aliás, posso acrescentar que ela faleceu em Macieira e está sepultada no nosso cemitério, enquanto que ele, tanto pode ter sido enterrado no Brasil, como comido por piranha ou jacaré que abundam por aquelas terras, nunca o saberemos. Se filhos houve e parece que sim, são todos mais novos que eu e podem muito bem viver ainda, só não sei onde.

A Tia Amélia (que era do Jerónimo por causa do marido) criou meia dúzia de filhos com muita dificuldade e tristeza e, honra lhe seja feita, carregou a sua cruz até ao Calvário. A casinha onde ela morava foi construída numa pequena parcela de uma bouça que pertencia ao Loureiro de Gueral que este ofereceu para tirar a família daquela casa, onde mais tarde eu nasci também. O Loureiro devia ter algum plano para a casa, mas com o andar dos tempos ela foi-se degradando e acabou por nunca ter qualquer serventia para a sua família.

Estou convencido que a casa vem da família do Jerónimo, assim como as outras propriedades agrícolas, hoje propriedade dos Loureiros. E que foi por essa razão que, quando se casou, o António ficou a morar ali e para lá levou a Tia Amélia do Leitão, sua mulher. Ali nasceram os seus filhos, pelo menos os mais velhos, como nos contou o Frei Pedro. Acho que não estou enganado se disser que só o David, o Daniel, o Zé e o Armando tiveram filhos. As filhas, Celeste e Francelina, assim como o Frei Pedro, não deixaram descendência.

Há dias, encontrei no Facebook duas filhas do Zé e também um filho do Armando e soube por eles que a família continua a pedalar em direcção à meta, sendo que a mulher do Armando, a Ana de Rates, é viva ainda, notícia que recebi com alguma surpresa, pois ela já era uma mulheraça, quando eu era criança de escola. Longa vida e saúde eu desejo a ela e outros descendentes da Tia Amélia do Jerónimo, minha vizinha do lugar do Outeiro! 

1 comentário:

  1. Mais uma história do lugar do Outeiro. Devíamos ser tidos primos!

    ResponderEliminar