domingo, 21 de novembro de 2021

Dorna, cuba ou baça?

 Na faina das vindimas e do vinho, usa-se (ou usava-se no meu tempo) uma vasilha para ferver o mosto a que se dava o nome de BAÇA. Hoje, fui consultar o dicionário da Língua Portuguesa e verifiquei que tal palavra não existe. O nome correcto é DORNA ou CUBA, embora este último nome não traduza, exactamente, a ideia do que vos quero transmitir. Vamos ficar pela BAÇA e assumir que é um regionalismo próprio da nossa terra, uma coisa só nossa, o que nos deve deixar orgulhosos.

Ponte da dorna - Castro Laboreiro, Gerês

A vida da lavoura e dos lavradores era muito dura, na primeira metade do Século XX. Máquinas agrícolas não havia, nem tão pouco dinheiro para comprá-las. O trabalho era feito à mão e com a ajuda de animais domésticos que puxavam as alfaias agrícolas. Lavrava-se a terra, com recurso ao arado, e onde ele não chegava era preciso cavar à mão. Hoje, faz-se o trabalho com tractores e onde ele não vai ... fica por fazer, já não se usam cavadeiras.

Este é o panorama em que decorre a curta história que vos vou contar e que se passou, de facto, na nossa aldeia, na década de 50 do século passado. Um jovem casal vivia num lugar bastante remoto da freguesia, tinha dois filhos muito pequenos, um ainda bebé, e labutavam o seu sustento nas poucas terras que tinham herdado de seus pais como dote de casamento. Era uma vida dura, isso vos posso garantir.

Para terem as mãos livres para trabalhar, os pais metiam os miúdos dentro de uma baça, punham-na em cima do carro de bois e seguiam para o campo. Se estava bom tempo, senão ficavam em casa, debaixo de um coberto, onde se guardavam palhas e utensílios agrícolas. Se seguiam com os pais para o campo, tudo o que havia dentro da baça era uma chupeta para o mais pequeno não chorar. A meio do período de trabalho, a mãe ia vê-los e dar-lhe qualquer coisa de comer. Se ficavam em casa deixavam-lhes um naco de broa de milho para irem enganando a fome, até a mãe regressar a casa para fazer o almoço. Dos dois o mais velho era uma menina que devia andar pelos 4 anos de idade, o seu irmãozinho não tinha ainda dois.

O recurso à baça era por uma questão de segurança, assim não corriam o risco de se magoarem. Estavam presos, como um cão na trela, e assim os pais podiam dedicar-se ao trabalho sem a preocupação de verem os filhos aleijar-se. Mas tinha um grande inconveniente, não havia lugar para as necessidades fisiológicas e quando o momento chegava, só lhes restava chafurdar na porcaria até a mãe chegar para resolver o problema.

Os dois irmãos cresceram assim, passaram muitos dias dentro da baça e, por conseguinte, não admira que tenham ficado um bocado estupidificados, em especial, o miúdo mais novo que foi criado pela irmã, como um macaquinho é criado pela sua mãe, sempre pendurado no seu pescoço. Já maiorzinhos, quando se viram livres da baça, era vê-los sempre juntinhos, onde ia um ia o outro e a despesa da fala era só com ela, ele mal levantava os olhos do chão. Tiveram uma infância muito triste, mas ganharam uma afeição um pelo outro que era digna de se ver. Nisso eram um exemplo na nossa freguesia.

domingo, 14 de novembro de 2021

Passei por aqui!


 E não quis sair sem deixar duas palavras. O ano de 2021 está quase a acabar, foram poucas as publicações feitas desde janeiro até agora e as coisas não tendem a melhorar. O blog dos combatentes está às moscas e este pouco menos que isso, não há quem puxe pela carroça e ela assim continua imóvel. Uma espécie de morto-vivo!