terça-feira, 18 de maio de 2021

Os filhos naturais!

 E a vergonha das mães solteiras!

Na actualidade, em que o casamento está fora de moda, as mulheres engravidam por encomenda e cada vez nascem menos filhos, ser filho de pai incógnito não é problema que tire o sono a qualquer uma. Pois, não era assim nos tempos da minha bisavó Eusébia, único dos meus antepassados mais recentes que nasceu, viveu durante grande parte da sua vida e ficou enterrada no «Cemitério da Agra», quando a sua família abandonou a freguesia, à procura de uma vida melhor.

A minha mãe que era neta da Eusébia nasceu em Rio Mau, foi viver para Macieira, quando entrou para a Escola Primária e abandonou a freguesia, indo morrer a Touguinha, concelho de Vila do Conde, para seguir o marido que no propósito de abandonar a agricultura arranjou emprego na Chenop, empresa de electricidade que electrificou Macieira, no ano em que eu fiz a 4ª Classe. O meu pai que para pedinchar não era peco, aproveitou a passagem dessa empresa pelas freguesias de Macieira e Gueral, recorreu à ajuda das pessoas mais influentes que conhecia e lá conseguiu convencer o "patrão da electricidade" a levá-lo com ele.

Isso fez com que a minha mãe e avó materna fossem morrer e ser sepultadas em Touguinha, deixando para trás os restos mortais da sua antepassada que faleceu, em 1939, na freguesia de Macieira, onde também tinha nascido, 87 anos antes. Como o nosso Presidente da Junta costuma ler estas palavras que vou publicando, deixo-lhe aqui uma pergunta. Seria possível identificar a sepultura onde os ossos da minha bisavó Eusébia ficaram a dormir o sono eterno? Cada vez que passo ao cemitério apetece-me ir fazer uma visita, mas mete-me impressão não saber, exactamente, o sítio onde ela ficou.

E voltando à sua história, pois é disso que trata esta publicação, ela foi mãe duas vezes. A primeira, como mãe solteira, de um rapaz chamado Carlos que nasceu, viveu e morreu no lugar de Lagoa Negra, da freguesia de Barqueiros, concelho de Barcelos e a segunda, já casada, de uma menina a quem puseram o nome de Maria (Maria da Eusébia) que viria a ser a minha avó.


Da minha mãe (Rita da Eusébia) muitos macieirenses, nossos contemporâneos, conhecem a sua história. Da minha avó Maria nem tanto, pois não nasceu na freguesia e, embora tenha lá vivido a maior parte dos seus 80 anos, levava uma vida escondida por trás da sua única filha, do seu genro e dos muitos netos que ajudou a criar. Da minha bisavó Eusébia duvido que algum macieirense se lembre, pois já morreram todos que com ela conviveram.

A imagem do assento de baptismo que vêem acima é do meu tio-avô que nasceu em Pedra Furada, em 1880, e foi viver para a Lagoa Negra com 10 anos de idade, quando a sua mãe se casou com um viúvo lá residente. Ele que tinha ficado viúvo sem filhos e ela com um filho sem pai, encontraram no casamento a solução para ambas as situações que não eram muito agradáveis para nenhum deles. O Carlos passou a ter um pai adoptivo, herdou os poucos haveres de um pequeno lavrador, ali casou e criou 4 filhos, um dos quais emigrou para o Brasil e tem lá descendência, tendo os outros 3 morrido solteiros. mesmo assim, para preservar a (má) tradição da família, uma das suas filhas foi também mãe solteira de um rapaz que ainda vive na casa que foi da sua bisavó Eusébia, casado e com duas filhas para continuar a história da família.

Como curiosidade saliento o nome do padrinho de baptismo que era irmão da Eusébia, também casou na Lagoa Negra (na minha opinião foi ele que "arranjou" o casamento da irmã) e a particularidade de ele já saber assinar o seu nome, coisa pouco comum, no ano de 1880, em que reinava D. Luis I, em Portugal. Outro dado curioso é o nome do pároco, António Alvares da Silva, nascido e sepultado em Pedra Furada, mas que quase de certeza era oriundo de uma família de Goios, da qual veio para Macieira uma Maria Alvares da Silva que casou no Outeiro e foi antepassada da minha bisavó Eusébia. Aliás, ninguém me disse, mas eu estou convencido que foi esse facto que fez a mãe solteira fugir de Macieira para Pedra Furada, quando se viu grávida, ou seja, acolher-se à protecção do pároco da freguesia que ainda era seu parente.

terça-feira, 11 de maio de 2021

A Tia Rosa Velha!

 A Tia Rosa do Jerónimo morava mesmo em frente da mina casa e era forçoso que a encontrasse a cada passo, para além de ela ir, frequentemente, a minha casa pedir ajuda para as mais diversas tarefas, a primeira das quais era ir com ela para o «Campo da Fonte» tomar conta das ovelhas, enquanto ela andava nas suas lides. A sua mãe, originária da freguesia de Rio Covo - Santa Eugénia, morreu era eu ainda muito novo, mas consigo situá-la na minha memória, talvez mais por "ouvir dizer" que por lembranças próprias.,

Curioso sobre este facto, fui pesquisar os registos paroquiais antigos para tentar descobrir a data do seu falecimento, o que consegui com alguma sorte (como se pode ver pelo assento acima). Os óbitos eram comunicados ao Registo Civil de Barcelos que fazia os necessários averbamentos (à margem) nos respectivos assentos de baptismo. Isto era um bom costume que muita ajuda quem procura reconstituir a sua árvore genealógica, mas que, infelizmente, nem sempre era respeitado por todos os Conservadores, não sei se por incúria ou falta de pessoal.

Assim, fui a Santa Eugénia confirmar se o averbamento do óbito tinha sido feito e acertei na mouche. Lá estava registado "faleceu em Macieira, no dia 7 de Janeiro de 1949, tinha eu 5 anos menos 2 meses. Por isso me lembro de ouvir dizer, quando entrava na casa da Tia Rosa, este é o quarto da Tia Rosa Velha. E fui ouvindo isso, ao longo da minha infância, por isso o recordo tão bem. Sendo a Tia Rosa uma filha solteira, calhou a ela a tarefa de cuidar da mãe até à sua morte. O seu marido, Zé do Jerónimo, irmão do meu trisavô Joaquim, já devia ser defunto nessa altura, pois nunca ouvi referir o seu nome.

Isto de parentescos antigos nem sempre é fácil de entender. A minha avó Maria era sobrinha-neta desse Zé do Jerónimo, pai da Tia Rosa. Elas as duas, Rosa e Maria, tratavam-se por primas, mas havia uma geração de diferença entre elas, ou seja, a Tia Rosa era segunda prima da minha avó, pois prima direita era a minha bisavó Eusébia. Todos eram descendentes do velho Jerónimo Ferreira, mas enquanto a Tia Rosa passou a usar a alcunha de Rosa do Jerónimo, a minha avó ficou como Maria da Eusébia. A minha mãe ainda era conhecida, em Macieira, por Rita da Eusébia, mas eu, por exemplo, já passei a ser conhecido por «Manel da Rita» e dos Jerónimos e Eusébios não herdei nada. 

terça-feira, 4 de maio de 2021

O Quim do Velho!

 Hoje, não tendo nada melhor para fazer, decidi dedicar uns minutos a escrever algo sobre os ascendentes do Joaquim Sousa, também conhecido por «Quim do Velho», ou seja, seu pai, Manel do Velho, seu avô David do Jerónimo e sua avó Maria do Velho. Muita confusão com as alcunhas, não é? Só para quem não está por dentro do assunto.

Comecemos pelo princípio. Esta história começa em Rio Covo, Santa Eugénia, quando o Joze Alves Ferreira de Sousa, neto do Tio Jerónimo Ferreira, do lugar do Outeiro, foi a essa distante freguesia pedir em casamento a sua namorada Rosa. O casamento realizou-se nessa freguesia, no ano de 1885, conforme registo que podem ver abaixo.



Tive que dividir o registo em 3 pedaços para se poder ler

Desse casamento nasceram vários filhos, entre eles o David que herdou o nome de Jerónimo do seu bisavô (que usou como alcunha) e ficou a ser conhecido por «David do Jerónimo». Até aqui está tudo claro, não é verdade? Depois o David viria a casar-se com a Maria do Velho, filha mais velha do casal formado por Manuel António de Araújo e Margarida Ferreira do Padrão (padrão era o nome do lugar onde moraram os seus antepassados, mas passou a fazer parte do nome, pela capacidade inventiva do pároco da freguesia).
E aí passou a haver, no lugar do Outeiro, uma mistura de Jerónimos com Velhos, coisa que me deu volta à cabeça, durante muitos anos, por não saber a origem dessas alcunhas. Que eu saiba, os filhos do Tio David nunca foram conhecidos por «Do Jerónimo», mas sim por «Do Velho» que era a alcunha da sua mãe Maria. Destes filhos, o mais conhecido foi, sem dúvida alguma, o Manel do Velho, por causa da profissão que escolheu, a de taxista. Era o único táxi nas redondezas e muitos macieirenses o utilizaram, eu inclusivé. Eu e vários colegas de escola fomos até Barcelos, em Junho de 1955, para fazer o exame da 4ª Classe.
Pois, para finalizar, o Quim do Velho, a que se refere o título desta publicação, é um dos filhos do famoso taxista de Macieira, um dos mais novos, suponho eu, mas mesmo assim não se livra da alcunha de «Velho» herdada da sua avó Maria.