Não me lembro com exactidão da data em que isto aconteceu, mas juraria que foi enquanto frequentei a Escola Primária, ou seja, entre 1951 e 1955. A seca era terrível e não sabendo mais o que fazer para resolver o problema, o pároco de Macieira e os seus homólogos das freguesias vizinhas resolveram levantar os olhos aos céus e pedir a ajuda divina.
Na minha juventude vi muitos filmes de índios e cow-boys e lembro-me das danças que os peles-vermelhas faziam para pedir a Manitou que lhe enviasse a chuva que faria crescer a erva nas pradarias para engordar os búfalos que eles caçavam para alimentar as suas famílias. Em Macieira, não havia búfalos para engordar, mas a água fazia muita falta para outras coisas, além de fazer crescer a erva que também servia de alimentação aos bois e vacas que eram as grandes máquinas agrícolas daquele tempo.
Ora bem, para invocar a ajuda divina, os párocos de Macieira, Gueral, Chorente, Negreiros, Gondifelos, Chavão e Grimancelos resolveram organizar uma procissão de velas nocturna que saía da igreja de Gondifelos e dava a volta por caminhos de cabras que demorava uma boa hora a percorrer e regressava de novo à igreja para uma última prece.
As cruazadas (organização religiosa infantil daquela época) das várias freguesias encabeçavam o cortejo que seguia com a cruz à sua frente. E rezava-se o terço - glória ao pai e ao filho, pai nosso, ave maria, santa maria repetidos até à exaustão - enquanto o cortejo à escuras ia tropeçando nas pedras do caminho e pedindo a Deus e Nossa Senhora para não cair e partir um braço ou uma perna.
Eu, como bom Cruzado que era, nos meus 8 ou 9 anos de idade, lá ia acompanhando os outros de vela na mão e olhos fixos naquele que seguia à minha frente e tentando evitar dar alguma topada nas pedras do caminho que me poderiam arrancar uma unha e ficar com um dedo em ferida. Sim, porque sapatos eram um luxo que não tinha ainda chegado a Macieira e os cruzadinhos iam descalços, não para que o sacrifício fosse maior, mas porque era assim a moda dos pobres.
Não vos posso contar se choveu ou não, ou seja, se as nossas preces foram ouvidas lá em cima, mas o mais certo é que não, pois lembro-me do Padre Marques - que nas suas orações rezava por tudo e mais alguma coisa - fazer uma oração especial a pedir a Deus que se lembrasse de nós e enviasse umas pingas de chuva, de cada vez que nos apanhava na igreja.
A Ribeira de Macieira que, vinda de Goios, Chorente e Gueral, atravessava a nossa freguesia levava pouca água, mas a rapaziada da minha idade sempre encontrava uma pocinha onde chapinhar para afugentar o calor. Para mim e os mais que moravam no norte de Macieira, o local escolhido era nas «Pousadas», perto da azenha do Tio Avelino Mariano. Quem é do meu tempo sabe do que falo!.
"Pousadas" tomei lá banho muitas vezes, belos tempos
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