domingo, 12 de outubro de 2025

Memória de outras gentes!



Parece que o lugar da Gandarinha não consta na lista de topónimos da nossa freguesia. Pelo menos não, no tempo da Monarquia que é o que conheço dos registos paroquiais. Como já referi em publicações anteriores, fiz uma cópia de todos os assentos de baptismo para uma folha de Excel, de modo a permitir-me fazer algumas pesquisas.

Uma delas é a distribuição do Povo de Macieira pelos respectivos lugares da freguesia. E no lugar da Gandarinha não consta ninguém. Mas, na minha memória, consta muita gente. Entrando pela rua que vai até à azenha do Tio Avelino, só há uma casa do lado direito, a do Silvestre, todas as outras são do lado contrário, sendo as duas primeiras a do Tio António Matos, pai do Amaro e da Arminda, e do Vila Real (não recordo o nome próprio).

Depois vinha a da Vitorina, do Capitão, da Pitabeca e do Tio Manel Coelho, mas fico-me pelas primeiras duas que são as que me interessam para a minha publicação de hoje. O Tio António do Matos era filho de outro homem com o mesmo nome e que morava na (hoje) Rua das Correias. O Amaro seu neto visitava-o frequentemente, no caminho de regresso da escola e eu acompanhava-o, pois o nosso caminho era comum até passarmos pela casa onde eu morava (casa do Loureiro), onde eu ficava seguindo ele até à Gandarinha.

Para não dar a volta pela estrada, o que fazia o caminho mais longo, o Amaro atravessava o campo do Tio Abel da Poça e, chegado lá ao fundo, pulava a parede para o outro lado e ... estava em casa. Ele já faleceu, há-de haver perto de meia dúzia de anos, mas a irmã dele, a Arminda, vive ainda e mora no lugar do Outeirinho, lá ao fundo da rua que começa na casa do Mouro. Também me lembro da mãe deles ter morrido e o pai ter ido a Vilar de Figos arranjar uma nova companheira a quem os filhos tratavam por madrinha.

Na casa ao lado do Matos, um casebre feito de madeira em mau estado abrigava um homem e os seus 3 filhos. Não me lembro de ali morar alguma mulher e o pai gostava de mandriar e ir de feira em feira, ou de festa em festa, a tocar a sua concertina. A filha, Rosalina, era da minha idade e morreu ainda criança (já aqui contei a sua história), os seus dois irmãos, o Manel e o Abel, eram mais velhos e seguiam o exemplo do pai, trabalhar quanto menos melhor. O Manel, já mais espigadote, arranjou uma concertina e começou a fazer companhia ao pai pelas feiras e romarias. O Abel ia arranjando uns trabalhinhos de ocasião por casa dos lavradores para não passar fome.

O apelido deste família era Vila Real (nós dizíamos Bicha Real), mas não encontrei qualquer referência a este apelido nos assentos de baptismo. O pai Vila Real deveria ser da idade do meu pai, mais coisa menos coisa, e se nasceu antes de 1911 deveria constar desses registos. E como a Gandarinha não existia, seria no lugar do Outeiro que eu devia pesquisar.

Foi o que fiz, mas não consigo encontrar o fio da meada, o apelido Vila Real não consta! Se, por milagre, passar por aqui alguém que tenha conhecido esta família, agradeço deixe um comentário e me conte o que souber a respeito deles. O Manel e o Abel, caso sejam ainda vivos, andam pelos oitenta e tal anos e tenho curiosidade de saber o que fizeram das suas vidas, desde que eu saí de Macieira, em 1955.

Sem comentários:

Enviar um comentário