O David, filho do meu padrinho com quem eu mais convivi por sermos ambos estudantes de padres, na década de 50 do século passado, ele nos seculares de Braga e eu nos Jesuítas de Cernache, faleceu. Na última vez que tive o prazer de falar com ele, contou-me que tinha ficado com a casa dos seus pais, depois das partilhas. Pouco tempo durou, depois desta nossa última conversa, ao balcão do Café do Padrão, em Macieira, onde nos encontrámos por mero acaso.
Agora que ele partiu para fazer as contas com S. Pedro, a casa deve ter ficado para o seu filho Luis de Oliveira que é médico especialista em Oftalmologia e trabalha em Vila do Conde, ou para a sua filha. Sendo gente da cidade, pensei que poderiam passar a casa a patacos e investir o dinheiro noutra coisa qualquer e que lhe ficasse mais à mão, já que moram em Vila do Conde.
Na semana passada fui a Macieira, até almocei num restaurantezinho que existe ao lado da Bomba de Gasolina, não sei se ali é Outil ou Socarreira, e passei pela casa que era do meu padrinho e reparei que há lá obras de modernização. Seja quem for o dono, mandou cortar o bico da horta e abrir um portão com largura para entrar um carro, no entroncamento da estrada de Barcelos com a Rua de Talho. Pode ser que assim aquela casa, onde fui muito feliz, volte a ganhar vida como tinha nos tempos da Tia Beatriz, a quem eu chamava madrinha e, de vez em quando, me adoçava a boca.
Além de outras memórias, essa casa foi onde o meu pai trabalhou até ir para a tropa, depois de sair da Casa do Loureiro de Gueral. E ali deve ter conhecido a minha mãe que, nessa altura, morava no Lugar de Talho, em casa da Tia Luísa, uma velhota solteira que morava nuns anexos da Casa do Torres, nas costas da casa dos Ferreiras, pais da D. Clementina, professora das meninas de Macieira.
O meu padrinho tinha a mania da caça. Além de comer e beber era do que mais gostava. Um dia montou uma ratoeira para apanhar um texugo que lhe andava a estragar o milho num campo que tinham junto ao rio de Cabanelas. E conseguiu apanhá-lo e depois trouxe-o vivo para casa e prendeu-o ao cadeado, onde costumava estar o cão de guarda à porta de casa. Nesse dia, movido pela curiosidade, fui beijar a mão ao meu padrinho e a Tia Beatriz convidou-me para almoçar com eles. Foi um dia em grande que nunca mais esqueci.
Hoje, tantos anos depois destes acontecimentos (pelo menos 70 anos) estava aqui a pensar em Macieira e nas poucas memórias que guardo dessa freguesia, onde nasci, e achei boa ideia deixar aqui registado aquilo que me ia passando pela cabeça. Talvez alguém interessado nestas leituras (da net) ao pesquisar pela palavra "Macieira" ou então "Couto" venha aqui parar e fique a saber que há alguém que testemunhou a vida dos moradores daquela casa que anda agora em obras de que o David fazia parte e, suponho eu, foi o último a morrer.
Sr Manuel grande memória sou filho de macieira teria gosto de um dia falar consigo, sou um jovem (45) filho Zé risso já em tempos falamos
ResponderEliminarOlá primasso! Como está o teu pai? Tenho estado com a tua tia Prazeres e ela disse-me que ele não anda muito bem! O teu avô António era primo direito do meu pai que se chama António também. Vieram ambos de Gueral casar em Macieira e assim fizeram de nós macieirensses.
EliminarGostei de ler, mais um dos teus registos de Macieira e sobre a casa do Couto. Jas
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