quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Grande desgosto!

Quando eu era um rapaz em idade de frequentar a Escola Primária, veio morar para o lugar do Outeiro a família de um cantoneiro que, suponho eu, tinha a seu cargo a estrada que vinha das Fontaínhas e ia até Barcelos. Dele não recordo nada, mas a sua mulher, a Teresa Cantoneira, ficou-me na memória por várias razões, uma delas a morte de 3 filhas, levadas pela tuberculose, no prazo de uma semana.

Lembrei-me disso ao conferir os óbitos do ano da graça de mil oitocentos e quarenta e oito. Também nesse ano, entre o Natal e o Ano Novo, no lugar do Picoto, faleceram 3 crianças de tenra idade. Imagino o tipo de festa de Natal que teve nesse longínquo ano de 1848, a família do Sr. António Francisco e sua mulher Bernarda.

Ainda me falta conferir os anos de 1845, 1846 e 1847 e pode acontecer que o Manuel, nascido em 1843, tenha também sucumbido à mesma doença que levou os seus irmãos. Não faço a mínima ideia de qual doença se tratou, mas nesse tempo qualquer doença era um grave problema, pois não havia penicilina nem antibióticos, como há actualmente. Febres e gripes de vários tipos apareciam e faziam uma razia entre a população que vivia em piores condições sanitárias.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O Homem dos piões!

 António Joze Vieira foi uma das pessoas que melhor conheci, em Macieira. Em primeiro lugar por morar mesmo em frente da Escola Primária que eu frequentei de 1951 a 1955, era só descer as escadinhas da escola e já estávamos a entrar pela sua loja adentro. Em segundo lugar, porque era ele que fornecia os piões aos rapazes de Macieira, às raparigas não que elas só jogavam à Macaca, e quando começava a «época do pião» quem não tinha tinha que ir lá comprar um.

Mas o que me fez vir aqui falar dele não foram os piões, mas sim os seus filhos que teimavam em morrer um atrás do outro, sabe Deus porquê. Ele era casado com Luiza Cândida da Silva e um deles devia sofrer de qualquer deficiência orgânica para os filhos não vingarem. E também podia ser por outa razão qualquer, no início do Século XX, a que me reporto, houve grandes febres que dizimaram a população, como o Tifo, por exemplo.

No estudo que estou a fazer aparecem, de 1902 a 1909, 4 filhos menores falecidos antes de chegarem à idade escolar. Não sei se o pai ou a mãe teimava em dar o mesmo nome a um filho que nascia, depois de lhe ter morrido outro com o mesmo nome. Assim morreu o Domingos e logo veio outro para o seu lugar e que acabou por morrer também, o mesmo acontecendo com a Maria Beatriz que teve outra seguidora.

Faço ideia da dor que sofreram esses pais, a viver ali mesmo ao lado da igreja nova de Macieira, inaugurada na última década do Século XIX, e a ter que ir lá velar os seus filhinhos, um atrás do outro. Em primeiro lugar foi a Maria Beatriz, nascida em 1 de Abril e falecida 2 dias antes do Natal desse mesmo ano. Depois foram os dois Domingos, um com dois e o outro com três anos. E para fechar as contas o Manuel que nasceu em 1903 e faleceu no último mês do ano de 1909.

E não posso garantir que a coisa tenha ficado por aqui, pois a partir de 1909 os registos começaram a ser muito incertos, até desaparecerem por completo depois da Implantação da República, em 1910. Deve ter havido pessoas que só normalizaram a sua situação depois de terem pedido o «Bilhete de Identidade», pois até aí não tinham sido registadas.

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Os primeiros!

 Actualmente, ando entretido a copiar os assentos de óbitos da minha freguesia. Por vezes não se sabe nada de uma pessoa, durante toda a sua vida, e ao darmos com o assento do seu óbito muita coisa é esclarecida. Se casou e com quem, se morreu jovem ou chegou à velhice, se morreu de repente ou ficou demente, se teve filhos e deixou testamento, etc. e no final da vida se teve alguém que gastasse dinheiro em padres e ofícios para ganhar o direito ao céu.

Como é pelo princípio que se deve começar, deixo aqui a primeira página do «Título dos defuntos», nome com que foi baptizado este livro.

Poucas freguesias começaram os registos paroquiais antes de Macieira, são raras, mas já encontrei algumas. A nossa, como se pode ver na imagem acima, começou em 1632.

O pároco que deu início à coisa foi o Pe. Francisco Villas Boas, como se depreende da assinatura que abre o livro. E o primeiro defunto a ter a honra de aparecer aqui foi um parente meu, por nome Maria Álvares, cujo assento de óbito deixo aqui também.

Ela morava no Outeiro, onde eu também morei, muitos anos depois, já a meio do Século XX. Faleceu, ou foi enterrada, no dia 27 de Dezembro de 1634, o que quer dizer que o tal livro teve início em 1632, mas teve que esperar dois anos pelo primeiro "cliente".

E pouco mais se entende da algaraviada que o pároco Francisco escreveu, além de mencionar o ofício com muitos padres que era o que interessava ao Sr. Arcebispo para provar que o seu mister de espalhar a religião na sua zona de influência ia de vento em popa!

domingo, 15 de setembro de 2024

Um Natal triste!

 


Uma família que tinha tudo para ser feliz, pai, mãe e 9 filhos que, a esta distância no tempo, não podemos saber se eram saudáveis ou se padeciam de alguma doença grave que pusesse em risco as suas vidas, e que, assim sem mais nem menos se vê perante uma enorme tragédia.

Na noite de consoada do ano de 1886, morre o seu filho João, nascido no ano anterior, como se pode confirmar lendo os dados da imagem acima.

Seis dias depois, ainda antes de terminar esse fatídico ano, morre também o seu filho Manuel, este já com mais de 4 anos de idade.

E mal se entrou no Ano Novo de 1887, morre a sua filha Maria, antes ainda de comemorar o seu 4º aniversário.

Que epidemia teria assaltado aquela casa de família, Santos de Penedo, para lhe levar 3 filhos em menos de 10 dias e transformar um período de festas numa tristeza tão grande que tenho a certeza não esqueceram até ao dia em que partiram deste mundo.

O nome da mãe, Felicidade, parecia augurar tudo de bom para essa família, mas, como diz o ditado antigo, o homem põe e Deus dispõe e o nome só trouxe tristeza à família, em vez da almejada felicidade.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O nosso tempo!

 


Não, não é de meteorologia que se trata, mas sim do tempo que medeia entre a nossa vinda a este mundo e a partida que está escrita no livro do nosso destino, a que, por sorte ou azar, não temos acesso.

Cada um de nós faz o que quer com esse tempo. Bem, deixem-me corrigir esta afirmação que está mal formulada. Uns são escravos do tempo e fazem aquilo que podem e quando podem, enquanto que outros podem fazer o que lhes der na real gana, pois nada há que os impeça. Felizmente, até hoje, é esse o meu caso.

Passei meses a copiar os assentos de baptismo e casamento do povo da minha terra, para saber de onde vim e quem foram os meus antepassados, o que consegui, mas nunca dei grande importância aos óbitos, pois depois de morto nada mais interessa. Mas estava, redondamente, enganado, pois há casos em que não se conseguem encontrar pistas de algumas pessoas, pela simples razão de terem morrido pouco depois de nascer.

Por isso, voltei ao assunto e estou a copiar os assentos de óbito. Comecei pelo fim e vou andando para trás, no tempo, de modo a encontrar respostas para os casos mais recentes, ou seja, daqueles que foram meus contemporâneos. Já estou a trabalhar no ano de 1906 e, em breve, entrarei pelo século XIX adentro.

Depois vos trarei aqui algumas curiosidades, uma das quais é o grande número de crianças falecidas em Macieira, nos princípios do século XX, assim como gente nova que não chegou aos 30 anos de vida. A estudar o passado entende-se melhor o presente!