sábado, 27 de julho de 2024

Fotos!

 


Apenas duas fotos das que tirei, na igreja, durante a cerimónia no dia do nosso santo. Em evidência os padres que compareceram para comemorar o 60º aniversário da Missa Nova do Pe. António F. Araújo, filho do Tio Salvador do Velho!

A presença de D. Jorge Ortiga, arcebispo emérito de Braga, foi para mim uma surpresa e ainda mais quando soube que ele nasceu no mesmo mês, do mesmo ano, que eu.

Foram relembrados os muitos padres com origem em Macieira, a maioria já falecidos. Dos presentes só conheci o Pe. António e o seu irmão mais novo, Domingos!

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Recordações!


 O que mais me lembro da festa de S. Tiago é a fila de bicicletas arrumadas na valeta da estrada, na subida de Travassos. Nesse tempo, pouco depois do fim da II Grande Guerra, era o único transporte disponível nas aldeias do norte de Portugal. Carros só o do Dr. João Alves, motorizadas ainda não tinham chegado (ou faltava o dinheiro para as comprar) e era a bicicleta que trazia os rapazes de Gueral, Courel, Negreiros e Chorente para alegrar a nossa festa.

Havia sempre alguém que a troco de uma moedinha tomava conta da "burra" até ao fim da festa. Do Rio do Souto até ao Outeirinho não havia bicicletas, portanto iam sendo empilhadas pela valeta acima até chegar à casa da Tia Silvina (que por acaso era a madrinha de uma das minhas irmãs que lhe ficou com o nome). Para quem vinha dos lugares mais a norte da freguesia era a presença das bicicletas que anunciava a proximidade da festa.

Não havia barracas de farturas, como há, hoje, mas aparecia sempre a padeira de Alvelos com a sua oferta da rosca e uns bolinhos de açúcar e clara de ovo. Além disso pouco mais havia e a grande festa constava de sermão e Missa Cantada, talvez também uma procissão com o andor do santo, mas disso já não me lembro. Em casa dos lavradores havia rancho melhorado, como se diz na tropa, em casa dos pobres havia "alegria e barriga vazia".  

Acompanhar o namorado ou a namorada era a verdadeira festa dos jovens, os mais velhos sentavam-se pelos cantos a recordar os tempos passados que nem sempre eram de boa recordação. E o sino? Esse sim é que era o arauto da nossa festa. Tínhamos um verdadeiro artista no toque do sino, não me recordo já do seu nome, mas lembro-me como ele fazia repicar todos aqueles sinos ao mesmo tempo.

Hoje, vou dar um pulo à terra que me viu nascer, mas duma coisa tenho a certeza, não vou ver uma única bicicleta no tope de Travassos, a malta, agora, anda toda de carro!

domingo, 14 de julho de 2024

S. Tiago o mata-mouros!

 

Vem aí a festa de S. Tiago e quanto mais soubermos a seu respeito, melhor!

Tiago, o apóstolo de Jesus, já devia ser um homem (maior de idade) quando Jesus o convidou a segui-lo e transformar-se num pescador de homens. Como foi martirizado e decapitado com a idade de 44 anos, vamos concentra-nos naquilo que teria feito nos seus últimos 20 anos de vida.

Após a morte do seu mestre e da descida do Espírito Santo sobre todos os apóstolos reunidos, pelo desígnio de Deus, partiram estes em todas as direcções para espalhar a palavra sobre a nova religião, o Cristianismo. O Médio Oriente, como seria lógico, seria a zona primeira, onde essa palavra foi conhecida, com a Grécia e a Turquia em grande destaque.

Por razões que ninguém conhece o apóstolo Tiago veio parar à Península Ibérica e envolveu-se na luta contra os mouros que, por essa altura, ocupavam a maior parte daquilo que é, hoje, o reino de Portugal e de Espanha. Digamos que a fé cristã foi imposta à espadeirada e não com palavrinhas mansas aos infiéis que no primeiro século da nossa era viviam no norte de África e se espalharam para a nossa península (Hispânica, no dizer dos romanos).

A sua luta começou mais a sul, naquilo que hoje é a Estremadura espanhola, mas veio viajando para norte, no cumprimento da ordem de Jesus - ide e espalhai a minha palavra - chegando à zona da Finisterra. Segundo a crença, ou a lenda, celebrou missa num altar de pedra, não muito longe de Compostela e dando por concluída a sua missão regressou a Jerusalém, onde foi preso e morto pelas autoridades romanas que eram quem ali mandava, nesse tempo, e não aceitavam ainda o Cristianismo.

Depois da sua morte, o seu corpo foi recolhido por alguns fiéis e metido numa arca de pedra, a qual foi trazida até à Galiza num barco de pescadores, por saberem que foi nessa terra que viveu o período mais importante da sua curta vida. E, no mesmo lugar onde celebrara a primeira missa, foi enterrado e em breve passaria ao esquecimento das gentes que tinham muito mais coisas com que se preocupar.

Alguns séculos depois, com o Cristianismo já aceite em Roma e em franca progressão por toda a Europa, a Igreja e os seus dirigentes mostraram grande interesse em descobrir o local, onde o santo foi enterrado, e transladar os seus restos mortais para a catedral de Compostela, onde se diz (mas nunca foi provado) que repousam até hoje.

Daí as peregrinações a Compostela e os diversos caminhos que, de toda a Europa, levam os peregrinos até ao local sagrado, onde repousa S. Tiago, o apóstolo e mártir. Tal como aquele que vindo do sul passa em Macieira e segue para norte, até Valença, onde entra na Galiza!

quarta-feira, 10 de julho de 2024

S. Tiago, o Caminho e as Macieiras!

Tiago nasceu na Galileia e era filho de Zebedeu e Salomé, segundo as Sagradas Escrituras. Era irmão de João Evangelista, ambos pescadores. É sempre citado como um dos três primeiros apóstolos, juntamente com Pedro e André.

A vida de Tiago muda quando aceita o convite de Jesus para ser “pescador de homens”, como narra o Evangelho de São Mateus: “Jesus viu dois irmãos, Tiago de Zebedeu e João, seu irmão, que, junto com o pai, ajeitavam as redes no barco. Eles, imediatamente, deixaram o barco e seu pai, e o seguiram”.



Está quase a chegar o dia em que se celebra este santo, na nossa freguesia de Macieira. Conta-se e não há quem o negue ou confirme que o apóstolo Tiago, irmão de João, passou por Rates e seguiu viagem até Compostela, onde celebrou missa e pregou a nova religião, tal como Jesus de Nazaré a ensinou, a religião do amor ao próximo - amai o próximo como a vós mesmos.

Ainda não se chegara ao meio do primeiro século da nossa era - este apóstolo foi martirizado e decapitado na ano 44 - e a nossa freguesia de Macieira não deveria ainda existir. Mas já existia o Caminho que vindo do sul, ligava Rates a Compostela, não por causa do santo que ainda era vivo e só foi santificado muito tempo depois, mas por causa do comércio que ligava a região do Porto ao norte da Península por razões económicas.

Caminho esse que o apóstolo seguiu espalhando a palavra de Deus a todos com quem se cruzava. Entre as elevações de Rates e Courel existe uma baixa densamente arborizada e atravessada por um regato, onde os almocreves paravam os seus animais e descansavam da longa jornada. Tal como, hoje, existem, plantadas pelo pessoal da Junta de Freguesia, devem ter existido também macieiras, na orla desse caminho e nas margens desse regato.

Eu acredito nessa teoria de terem sido esses almocreves e outras gentes que usaram esse caminho, também denominado, mais tarde, como Estrada Real, quem deu o nome de Macieira a esse local de descanso, entre o Porto e Barcelos. Há ainda quem acrescente que também recebeu o mesmo nome o outro lugar, Macieira de Vilarinho, primeiro ponto de descanso, depois de sir do Porto, em direcção a norte.

Carregadas as mercadorias e atrelados os bois, cavalos ou mulas aos respectivos carros punha-se toda a gente em movimento, sabendo já que entre o ponto de partida e a cidade de Barcelos haveria duas paragens, no lugar das macieiras, tanto na de Vilarinho como na de Rates. Ali se descansava, se tomavam as refeições e se dormia até ao nascer do sol, hora em que se retomava a viagem.

Lembro aos macieirenses que, no dia 25 deste mês, devem ir até ao lugar da «Mulher Morta», onde foi construído o parque de descanso dos peregrinos, e dirigir uma prece ao santo que veneramos, lembrando a data em que ele por ali passou evangelizando as gentes do noroeste da Península, muitos anos antes de existir Portugal.

terça-feira, 2 de julho de 2024

Um caso raro!

 Causou-me grande espanto o casamento do pai do Amaro que à data tinha 25 anos, com uma mulher tão mais velha que ele. Eram 28 anos de diferença! O que teria motivado este casamento? Nunca o saberemos, pois os protagonistas faleceram, há muito, e os descentes eram novos demais para saberem dessas coisas.

Li e reli os documentos disponíveis na Torre do Tombo e parece-me não restarem dúvidas. O noivo nasceu em Janeiro de 1910 e a noiva em 1882. Verifiquei a paternidade dos dois e acho que não restam dúvidas. O que me deixou ainda mais surpreendido foi a idade com que teve os dois filhos que eu conheci pessoalmente, o Amaro que nasceu 7 anos após o casamento e a Arminda 1 a 2 anos depois.

Um caso assim só na Bíblia, quando Deus prometeu um filho a Abraão, sendo a sua mulher já muito velha e nunca ter dado à luz qualquer filho, razão pela qual era considerada estéril. Mas Deus é todo-poderoso e fez o milagre. O nascimento do Amaro, em 1942, quando a sua mãe já tinha 60 anos, deixa-me de boca aberta! Um verdadeiro milagre, a não ser que haja outra explicação para o facto e que eu desconheço.

Nos velhos tempos, não era raro esconder o nascimento dos filhos, ditos naturais, ou seja, cujo pai era desconhecido. E a Srª Tomásia podia ter aceitado registar em seu nome o Amaro para encobrir o "caso" de uma irmã mais nova, por exemplo. E pouco tempo depois, repetir a coisa, quando nasceu a Arminda. Esconder a gravidez era possível e arranjar uma mãe postiça também, num tempo em que os partos eram feitos em casa e em completo sigilo, se a grávida assim quisesse.

Pessoalmente, acredito mais nessa possibilidade que num milagre a fazer lembrar Abraão e a sua mulher Sara.

Sara também enfrentou a esterilidade, concebendo miraculosamente em avançada idade.[3]Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos? Gênesis 17,17.E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua descendência depois dele. Gênesis 17,19

Para algum familiar mais curioso que queira conferir os dados relativos ao Sr. António Ferreira de Matos, pai do meu amigo Amaro, aqui deixo o seu registo de baptismo, que, nos tempos da Monarquia, era o único documento existente para provar o nascimento de qualquer cristão. Ali se pode ver que nasceu, em 1910, casou em 1935, enviuvou e e voltou a casar, em 1950, falecendo, em 1988.



segunda-feira, 1 de julho de 2024

Meu amigo Amaro!

Para corrigir e/ou completar a minha última publicação, aqui fica o assento de baptismo do pai do meu amigo Amaro, meu colega de 4ª Classe e meu companheiro de brincadeira e muitas aventuras. Mais velho e experiente que eu, serviu-me de conselheiro em muitas situações com que me confrontei sem saber como agir ou reagir. 

Como se pode ver no registo, ele era filho de António e neto de Luiz, todos eles Ferreira de Matos de apelido, moradores no lugar do Formigal. A sua mãe nasceu em 1882, casou em 1935 e faleceu em 1950. Fiquei de olhos arregalados, quando me confrontei com estas datas, pois considero pouco menos que impossível uma mulher conceber e dar à luz 2 filhos, depois dos 55 anos de idade, mas parece que não há erro nestes dados. O nome Tomásia e o apelido Ferreira Braga são únicos, em Macieira.

Agora, compreendo melhor a razão por que o Maro ficou órfão com apenas 8 anos de idade, a sua mãe já era velha quando ele nasceu e nesses tempos, meados do Século XX, 65 anos era a expectativa de vida para qualquer pessoa. E também o que justificou que o viúvo tivesse ido a Vilar de Figos buscar uma nova mulher para repartir com ela o resto da sua vida, tinha apenas 40 anos e muitos para viver. E foi essa mulher que acabou de criar os dois irmãos, Amaro e Arminda, que tinham ficado sem mãe.

E foi assim que o apelido de Matos se espalhou pela freguesia de Macieira, juntando o lugar da Gandarinha aos outros, onde viviam já outros membros desta grande família!