O que mais me lembro da festa de S. Tiago é a fila de bicicletas arrumadas na valeta da estrada, na subida de Travassos. Nesse tempo, pouco depois do fim da II Grande Guerra, era o único transporte disponível nas aldeias do norte de Portugal. Carros só o do Dr. João Alves, motorizadas ainda não tinham chegado (ou faltava o dinheiro para as comprar) e era a bicicleta que trazia os rapazes de Gueral, Courel, Negreiros e Chorente para alegrar a nossa festa.
Havia sempre alguém que a troco de uma moedinha tomava conta da "burra" até ao fim da festa. Do Rio do Souto até ao Outeirinho não havia bicicletas, portanto iam sendo empilhadas pela valeta acima até chegar à casa da Tia Silvina (que por acaso era a madrinha de uma das minhas irmãs que lhe ficou com o nome). Para quem vinha dos lugares mais a norte da freguesia era a presença das bicicletas que anunciava a proximidade da festa.
Não havia barracas de farturas, como há, hoje, mas aparecia sempre a padeira de Alvelos com a sua oferta da rosca e uns bolinhos de açúcar e clara de ovo. Além disso pouco mais havia e a grande festa constava de sermão e Missa Cantada, talvez também uma procissão com o andor do santo, mas disso já não me lembro. Em casa dos lavradores havia rancho melhorado, como se diz na tropa, em casa dos pobres havia "alegria e barriga vazia".
Acompanhar o namorado ou a namorada era a verdadeira festa dos jovens, os mais velhos sentavam-se pelos cantos a recordar os tempos passados que nem sempre eram de boa recordação. E o sino? Esse sim é que era o arauto da nossa festa. Tínhamos um verdadeiro artista no toque do sino, não me recordo já do seu nome, mas lembro-me como ele fazia repicar todos aqueles sinos ao mesmo tempo.
Hoje, vou dar um pulo à terra que me viu nascer, mas duma coisa tenho a certeza, não vou ver uma única bicicleta no tope de Travassos, a malta, agora, anda toda de carro!
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