segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Vinho para a Póvoa!

Para quebrar um pouco a monotonia das publicações que tenho vindo a fazer e que admito sejam cansativas para quem não tem o mínimo interesse por elas, vou falar-vos de um costume que, há muitos anos deixou de existir, na nossa freguesia de Macieira. Diria que foi o advento dos transportes motorizados que acabou com esse velho costume que se praticava ainda quando eu era rapaz da Escola Primária.
Estou a falar do transporte de pipas de vinho, em carros de bois (quase sempre vacas) para a Vila da Póvoa, ou para a povoação piscatória das Caxinas, esta pertencente ao concelho de Vila do Conde. Pouco depois da meia-noite era preciso fazer-se ao caminho para fazer uma penosa viagem que demorava aí umas boas 5 horas até ao destino.


À noitinha, preparava-se o carro com a pipa bem amarradinha e depois de duas ou três horas de sono dormido à pressa, era só chegar as vacas ao carro, meter a chavelha no sítio, agarrar na soga e ala que se faz tarde.
Ao raiar do dia e com o cheiro da maresia a acariciar as narinas, o moço de lavoura encarregado do frete entregava a pipa ao taberneiro a quem se destinava e rumava à praia para carregar o carro com sargaço, o estrume do mar, que era usado como fertilizante natural para adubar as terras e melhorar as colheitas.


As marés vivas do inverno e primavera enchem as praias de sargaço e alguém tem que o apanhar para que fiquem limpas para a época de banhos. Hoje nem tanto, mas antigamente era uma benesse para as gentes pobres da beira-mar, pois recolhiam-no e vendiam-no aos lavradores das freguesias vizinhas.


Outras vezes, era pilado (caranguejo seco) em vez de sargaço que constituía a carga que as pobres vacas tinham que arrastar até Macieira. O dia já ia longo para elas e pouco mais tinham comido que um molhito de palha de milho que tinha sido carregado no carro, juntamente com a pipa do vinho, para lhes servir de almoço.
E depois havia que enfrentar o caminho de regresso, arrastando a carga até casa do patrão, e o caminho não era fácil. A subida da Mata, ao atravessar a freguesia de Touguinhó, e a Serra de Rates, entre S. Cristóvão de Rio Mau e S. Pedro de Rates, eram provas que não se podiam evitar no caminho para casa.
Com um pouco de sorte, lá para o meio da tarde, o moço, cansado de tantas horas a segurar na soga e com perto de 40 quilómetros nas pernas, avistava a torre da igreja, lá no alto do Outeirinho, e sabia que estava prestes a chegar a casa e, finalmente, dar um pouco de descanso às pernas.

1 comentário:

  1. Eu ainda me lembro,bastante bem desses acontecimentos!Como habitava no outeirinho,muitas vezes vi chegar o carro com o sargasso,que para as minhas narinas de catraia,cheirava mal!!!

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